terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Cinema em tempos de vômito & bolsas de bosta: Momento de Pausa Fanzine entrevista Gurcius Gewdner

O Momento de Pausa Fanzine existe desde o final dos anos 90 e ao longo do tempo, ainda na época das fitas K7 de Os Legais, sempre nos ajudou a divulgar nosso trabalho.

O fanzine ficou um tempo parado, mas está de volta, desta vez com casa em Recife! Pode ser adquirido pelo correio em versão impressa, ou em PDF, pedidos pelo email : mpausa2@gmail.com ou no perfil do editor: Mpausa Pausa.
Em outubro do ano passado, o fanzine realizou uma entrevista querendo saber alguns dos mistérios de Pazucus, vomit-bags e cinema brasileiro de terror. Segue aqui em baixo:

1- Atualmente, o seu curta "Bom dia Carlos", recebeu bons comentários/críticas positivas. Faça uma apresentação dele:
Bom Dia Carlos é uma declaração de amor direcionada mais especificamente ao cinema de Lucio Fulci e Andrej Zulawski e também uma declaração de saudade ao amigo e também cineasta Carlos Reichenbach. É filme pra gritar aos céus que temos saudades dele e que espero que ele esteja curtindo esses filmes onde quer que esteja. É também uma celebração da escatologia no cinema, a todas as vezes que agradeci por me sentir horrorizado ao ver alguém vomitar ou fazer coisas repugnantes a maravilhosamente inacreditáveis em um filme. É uma especie de filme de arte na rotação de um liquidificador que desce uma montanha russa de vomito, histeria e líquidos ultra coloridos. Também é mais um dos meus exercícios em cima do que eu chamo de "Telephone Horror", que é quando o telefone, esse propagador de pânico, guia o drama e a narrativa, mesmo que por apenas uma parte do trajeto dos personagens. Pro público, antes das sessões eu sempre digo que é um filme feito com muito amor, entrega, e que espero que todos se divirtam. Alguns dizem que é preciso estomago forte, mas tem gente que também fica sem ar de tanto rir, então talvez é necessário estomago e também, pulmões fortes. Você decide.

2 - O saco de vômito, é algo no mínimo inusitado. Como surgiu a ideia de distribuí-lo? Alguma pessoa realmente fez uso dele?
Dizem por aí que usaram, eu até agora não vi ninguém vomitar ao vivo usando a sacola. Devo admitir que sacos de papel, na prática, são ineficientes pra segurar os líquidos corporais, mas minha intenção aqui é resgatar uma das tradições cinematográficas mais bonitas pra mim: o saco de vomito a moda antiga, feito de papel. Nos últimos anos não se vê muitos deles por aí, mas nos anos 70, boa parte dos clássicos como Mangiatti Vivi ou Pink Flamingos tinham o seu. Se vou fazer um filme me chafurdando de amor por fluídos corporais, é obvio que é a chance perfeita pra botar meus próprios sacos de vômito nas ruas! Estou querendo fazer Vomit Bags pro Pazucus também, mas até agora não consegui dinheiro. Fizemos 300 em silk screen, usando duas telas, tínhamos apenas um dia pra usar o estúdio de silk, o plano era estampar 600 sacos, conseguimos 300 com apenas uma das telas e outros 300 com as duas telas. No fim esses pacotes com apenas uma tela (estampada com o nome do filme) acabaram sendo a melhor parte, que me permitiram desenhar os pacotes personalizados. Não sei quantos eu já fiz, mas já estão espalhados por todas as partes do mundo, geralmente estampando o rosto de seus donos. Pra você adquirir a sua, você pode adquirir a edição limitada de bom Dia carlos, que vem com uma série de recompensas, incluindo essa sacola de vômito exclusiva.

3 - Pazúcus – A Ilha do Desarrego, é uma sequência de "Bom dia Carlos"? 
Sim, é o universo estendido de Carlos em todas as maneiras possíveis. Os filmes foram feitos ao mesmo tempo, escritos como um roteiro só na verdade, na ilha de edição que descobri que poderia fazer um curta primeiro, basicamente porque o projeto foi feito por encomenda, me pediram um filme de 15 minutos, mas usei o tempo e disposição de todos, mais o baixo orçamento que tínhamos, pra criar esses dois filmes. Os dois filmes se completam, o pouco de imagens do curta que repeti no longa, tentei uma maneira de re-significar as imagens, pra que fizesse sentido pra mim essa coisa da repetição. Alterando trilha sonora, ou até mesmo alterando os caminhos das ações na narrativa.

4 - Há planos de para algum longa envolvendo os personagens dos dois trabalhos?
Tenho um argumento para a Parte II, que eu adoraria filmar. Continua com a saga de todos os personagens sobreviventes, e apresenta a fantástica fazenda sagrada de frutas raras, sonho místico de todos os sobreviventes do Apocalipse. Se alguém me der dinheiro, eu também estou pronto pra escrever e dirigir uma série de Tv chamada "Contos do Dr. Roberto", que apresentaria os outros pacientes do Doutor Roberto, todos bastante encrencados com os conselhos e instruções do nosso angustiado Doutor, que é a grande espinha dorsal dos personagens desta fábula sobre a Ilha da magia e suas múltiplas maldições.

5 - Qual a sua opinião quanto ao fato de haver uma resistência com o público brasileiro quanto ao terror feito aqui, mesmo havendo bons títulos?
Não acho que existe essa resistência. Nunca existiu. Ao menos, nunca por parte do publico, as pessoas amam filmes de terror, eles são lucrativos, atraentes e os fanáticos gostam de colecionar. Filmes de terror sempre foram campeões de bilheteria no brasil, não só os estrangeiros, mas lá na década de 60 as fitas do Mojica já faziam fila pra fora dos cinemas. Acho que essa resistência existia em outros setores que nem sempre se comunicam com o publico: critica, curadoria e editais. Mas essa resistência foi se transformando, na medida que foram surgindo mais realizadores interessados em fazer esse tipo de cinema nos últimos anos. Isso deve resultar em novos realizadores inventivos, que me agradam mais quando não estão pra sempre religiosamente presos a um gênero narrativo especifico. E também em filmes medianos que atendam uma demanda de mercado. Não acho que meu filme, por exemplo, seja um filme de terror, ele é um filme onde declaro meu amor pelo gênero a cada segundo, meu amor por filmes que cresci vendo e outros que descobri no ano que escrevi o roteiro. É um manifesto escatológico de liberdade, liberdade também na forma, na maneira de fazer e se divertir e nas maneiras que encontramos de desafiar os fãs mais conservadores dos diversos gêneros de cinema que o filme tenta atravessar. Acho que muitas vezes a precariedade fala muito sobre a poesia do cinema, essa coisa do monstro de papelão dos anos 50, da coisa de você lembrar que está vendo um filme, que são figurações, representações falsas afastadas da realidade. Isso é mais atraente pra mim do que a pessoa obcecada por efeitos realistas, por representações de "realidade", e que eventualmente pode se irritar se eu decido desenhar riscos coloridos na imagem, com canetinha em um momento e em outro simplesmente caprichar no realismo de efeitos gosmentos e fezes. Talvez não seja um filme feito pro telespectador tradicional de filmes de terror, que pode se sentir um tanto que confuso ou bastante irritado com o que vai encontrar em Pazucus (e basicamente em qualquer filme meu). Não é nem exatamente um filme B, a duração de 111 minutos deixa isso bem claro, ao menos pra mim. É simplesmente um filme onde eu me permiti fazer tudo que eu queria. Nem eu sei definir exatamente onde eu cheguei com o filme, mas é bem assim que eu gosto.

6 - Para quem ficou curioso e quiser obter o seu trabalho, é possível comprar o dvd?
Sim, visite: http://bulhorgia.minestore.com.br/ . Por enquanto, você vai encontrar apenas a edição especial de Bom Dia Carlos e lançamentos antigos. Meus planos pro Pazucus é lançar uma campanha de pré venda e Crowdfounding do DVD nos próximos meses. Com o dinheiro arrecadado, vou finalizar meu próximo longa, que já está filmado. Já fiz isso antes com mamilos em Chamas e farei isso de novo agora: o filme terá uma edição de um disco e outra de 4 discos. Também vamos oferecer guarda chuvas personalizados pra proteger a todos das chuvas de sangue e vômito do apocalipse, além de uma série de outros brindes especiais. Inicialmente a campanha vai ser centrada fora do Brasil, que é onde temos um público fiel e louco pelas maluquices produzidas pelo cinema independente brasileiro. Logo em seguida, fareia versão brasileira da campanha. Separe um dinheiro pra isso, não é todo ano que sai um filme como esse, eu garanto.


Nenhum comentário:

Postar um comentário